O feed do vizinho é sempre mais verde
Além disso, os estudos que avaliam o tempo de uso da internet com questões de saúde mental têm identificado uma forte relação entre o uso das redes sociais com a Depressão, Transtornos Alimentares e Suicídio. Já outro estudo realizado com mais de dez mil adolescentes de países Europeus identificou que o uso das redes sociais durante duas horas ou mais por dia está ligado a problemas de internalização e diminuição do desempenho em atividades escolares. O ponto comum entre esses estudos, indicam que os mais propensos a desenvolverem dependência pelas redes sociais são os jovens, já que estes estão desde muito cedo envolvidos nesse mundo. Dentre esses jovens, os que preferem trocar as relações cara a cara pelas relações online, tendem a ter maiores níveis de ansiedade social, depressão e a baixa autoestima como questão central.
Mas calma, não é porque o seu filho ou o seu amigo ficam muitas horas conectados ao celular que eles estão tendo problemas com as redes sociais. O uso das redes sociais pode ser visto como problemático a partir do momento em que se torna o foco principal da vida de uma pessoa, iniciando como forma de entretenimento e se desenvolvendo para o uso excessivo. Alguns sinais de alerta que indicam que o uso está sendo danoso para uma pessoa são:
- Afastamentos de atividades (hobbies) que a
pessoa considerava estimulante e constante isolamento social;
- Comportamentos que não apresentava antes
como apatia, tristeza, desinteresse e irritabilidade;
- Alteração significativa do ciclo de sono,
que pode gerar sonolência durante o dia, dificuldade de concentração e redução
do rendimento escolar;
- Ganho ou perda de peso evidentes;
- Perda dos cuidados com higiene e alimentação;
- Agressividade ao ser impedido de utilizar
celular ou computador;
- Gastos excessivos como dinheiro em atividades virtuais.
Agora você pode estar se perguntando o motivo pelo qual as redes sociais estão tão ligadas ao nosso dia a dia e porque podem trazer tantos prejuízos assim? Várias teorias buscam responder a essa pergunta, aqui eu vou citar três das que eu considero mais importantes para essa discussão: Teoria de Hierarquia de Necessidades de Maslow, na qual as redes sociais atendem a quatro necessidades humanas básicas: Segurança, já que a personalidade e opiniões se encontram “seguras” por conta da “privacidade”; Associação, havendo a possibilidade de conexão entre amigos e desconhecidos com um interesse comum; Estimação, por meio dos likes e criação de novas amizades; Autorrealização, já que podemos escolher a forma como desejamos nos apresentar. Teoria Baseada na Seleção Natural, na qual os processos bioquímicos trazem satisfação quando se tem contatos sociais desejados, já que o ser humano sempre sobreviveu melhor em grupo. Porem como essas relações ficam muitas vezes restritas apenas no campo virtual, as emoções ali sentidas e expressas não satisfazem as necessidades naturais ligadas a sobrevivência e ao contato íntimo. E por não atenderem as reais necessidades de interação, a busca por relações nas redes sociais se tornam cada vez mais frequentes e necessárias, explicando inclusive a sensação de solidão e o isolamento social vivenciada por pessoas dependentes de internet, mesmo quando estas têm no cotidiano relações positivas. E O Modelo Cognitivo Comportamental de Davis, este é um dos mais aceitos atualmente e parte do princípio de que o uso em excesso das redes sociais está ligado a cognições (pensamentos e crenças) desadaptadas sobre si próprio e sobre o mundo, tais como: insegurança e visão negativa de si, de forma que o indivíduo recorre a internet como forma de obter interações sociais positivas, com a crença de que no mundo virtual as relações são mais seguras, eficazes e confortáveis.
Considerando então a internet como um espaço que apresenta vantagens e desvantagens, a questão que se coloca é; até que ponto a internet é um porto seguro, ou um perigoso rochedo que afunda cada vez mais os jovens em perigosos mares desconhecidos? Ou melhor, vamos voltar ao título do nosso texto e pensar até que ponto o feed das pessoas que seguimos é realmente mais verde que o nosso? O que se desdobra no problema de o quão verdadeiro são algumas informações postadas e até que ponto toda a felicidade, glamour e diversão constantes que estamos tomando como padrão para a nossa vida são reais? Será que aquela pessoa acordou mesmo com a pele impecável e o cabelo sedoso mostrado na foto, ou é apenas um filtro que produziu tal efeito? O céu que aparece no fundo é mesmo tão azul, ou o contraste da imagem foi alterado e as nuvens removidas em aplicativos de edição de fotos? Até que ponto é saudável seguir perfis que reforçam a ideia de felicidade e glamour permanentemente? Até que ponto nós estamos nos cobrando de viver vidas que só existem nos feeds tão “verdes”?
As Universidades de NYU e Stanford realizaram
a maior pesquisa analisando especificamente os efeitos do Facebook no nosso dia
a dia e nos nossos hábitos, identificando que um mês fora dessa rede reduz a
ansiedade e depressão, e aumenta o nosso bem-estar geral. As pessoas que
participaram da pesquisa e ficaram fora do Facebook relatavam se sentir mais
felizes, mais satisfeitos com sua vida e com menos ansiedade e depressão. Mas o
que explica tantas mudanças assim? Uma das possibilidades para explicação
desses resultados, está ligada a teoria da comparação social, ou seja, se
associarmos o valor da nossa vida social e pessoal ao restante das pessoas,
principalmente pelo seu feed, iremos alimentar intensos sentimentos de inveja e
frustração, já que a maior parte das pessoas tendem a compartilhar o seu melhor
momento e a sua melhor foto do dia, sugerindo assim que a vida das pessoas que
seguimos é maravilhosa e que a nossa não faz tanto sentido, já que temos que
vive-la para além do feed.
Entenda, eu não
estou sugerindo que a melhor saída seja paramos de usar as redes sociais de
forma definitiva, mas é importante pensarmos que ao mesmo tempo que as redes
sociais possibilitam uma interação positiva em quantidade, permitindo
interações com um maior número de pessoas, elas geram em contrapartida uma
interação negativa em qualidade, já que estas acontecem de forma mais
superficial, onde perdemos o controle sobre o que é real ou apenas ângulo e uma
boa edição de fotos. Reforço que a questão que se coloca não é o fim das redes
sociais como forma de cuidado com a saúde mental, mas sim, a forma como nós
estamos interagindo com essas redes e o que estamos construindo como verdade
para as nossas vidas. Aqui em baixo eu vou deixar uma figura com alguns pontos
positivos e negativos das redes sociais.
É importante lembrar que os estudos sobre o impacto das redes sociais não trazem conclusões claras sobre o assunto e ainda não se sabe se o uso desta está criando condições para novas patologias psiquiátricas ou se apenas dá condições para que uma patologia psiquiátrica previamente estabelecida se expresse. Inicialmente o uso problemático com a internet pode ser resolvido dentro da própria casa, a partir de ações de orientação, da negociação e da firmeza (sem rigidez excessiva). No entanto ao se perceber dificuldades em lidar com esse uso problemático sozinho ou sinais graves e bem acentuados, é fundamental a avaliação por parte de um profissional de saúde mental. Uma pergunta muito importante a se fazer é: Será que a vida das pessoas que eu sigo são realmente tão interessantes, ou as habilidades delas em produzir e editar fotos que são melhores que as minhas? É comum termos dificuldades para lidar com questões da nossa vida, mas não espere essa dificuldade piorar, procure um profissional capacitado que poderá te ajudar bastante, inclusive a usar as redes sociais sem se culpar por ser quem você é.
FIDALGO, Jessica Marta Paiva - O Impacto das Redes Sociais na Saúde Mental dos Jovens – Universidade de Lisboa; Clinica Universitária de Psiquiatria e Psicologia Médica – 2018
GIMENO
Rebeca - O que acontece com seu cérebro se você largar
o Facebook? – 2019 – Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/02/12/tecnologia/1549990082_118422.html
O impacto das redes sociais na saúde mental e o que é possível fazer - 09/12/2019 – Disponível em:
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